O Encontro Internacional de Educação Midiática aconteceu nos dias 23 e 24 de maio, reunindo importantes atores da sociedade. O objetivo foi fomentar reflexões sobre o tema “Direitos Humanos, Meio Ambiente e Democracia na era da Inteligência Artificial”. Por isso, o encontro teve apoio do Consed, do Jeduca e da Fundação Roberto Marinho, além de cooperação da UNESCO.
A jornalista e professora Carolina Grimião fez a cobertura do evento e compartilhou com o JC os principais insights e debates.
Hoje, compartilhamos na íntegra a entrevista da Patrícia Blanco, Presidente do Instituto Palavra Aberta. Ela trouxe um olhar especial sobre a formação e a atuação social de alunos e professores acerca do tema da educação midiática.
Entrevista com Patrícia Blanco sobre educação midiática
Jornal da Criança e Jovens: O tema do Encontro Internacional de Educação Midiática dialoga com as principais questões da atualidade, onde o uso da internet sem a reflexão crítica pode causar grandes impactos na sociedade. Como você vê a relevância desses temas dentro do nosso contexto atual?
Patrícia Blanco: Esses temas para nós são cruciais para discutir cidadania, seja no mundo real ou digital. Não dá pra gente separar hoje as temáticas de direitos humanos fundamentais e de liberdade de expressão sem tratar da educação midiática, principalmente por conta da urgência na atualidade.
Jornal da Criança e Jovens: Pensando na atuação do professor em sala de aula, quais os maiores desafios que você vê no trabalho da educação midiática?
Patrícia Blanco: São inúmeros, mas acredito que o mais presente hoje é que o professor precisa entender que o uso da tecnologia não é um oponente. Ele pode ser um grande aliado, inclusive para ajudar na produção de conteúdo, a dar significado para os jovens, principalmente para a utilização das redes sociais. Ou seja, para dar entendimento deste instrumento até para a educação.
Mais ainda, o professor não será substituído, muito pelo contrário. O papel do professor hoje tem que ser ressignificado para que ele se entenda como um curador do conhecimento. Afinal, ele é a pessoa que pode, a partir da tecnologia e dos seus instrumentos, ajudar no processo de educação do aluno. Assim, é possível dar muito mais significado para a educação do século 21.
Então eu vejo como primeiro desafio que o professor entenda que o seu papel continua de extrema relevância. O segundo é que ele precisa trazer a tecnologia mais para o seu dia a dia. Assim, pode desmistificar o pensamento que ela pode ser excludente na sala de aula. Por fim, o terceiro, e talvez como maior desafio, é ele precisa se preparar. E aí entra a formação de professores.
Como desenvolver conhecimento crítico em educação midiática?
Jornal da Criança e Jovens: Como você percebe a atuação dos jovens nesse sentido, com tanto acesso e facilidades digitais, uma vez que o fato de saber manusear não significa ter o conhecimento crítico das ferramentas?
Patrícia Blanco: Por muitos anos a gente falou do nativo digital, que a criança já nasce sabendo mexer no celular. De fato, os jovens têm uma habilidade manual de trabalhar com a tecnologia com mais facilidade. Mas não dá para tratar esse jovem como se ele tivesse discernimento suficiente para entender os riscos e as potencialidades do ambiente digital.
Temos trabalhado muito contra o conceito de “nativos digitais” para o conceito de “inocentes digitais”. Isso porque, da mesma forma que você tem que preparar a criança para saber atravessar uma rua, a se colocar em um ambiente físico que tem riscos e oportunidades, você também tem que preparar o aluno para entender a sua responsabilidade. Mas principalmente, os cuidados que ele precisa ter na hora de participar desse universo informacional tão grande e aberto.
A gente precisa de fato oferecer para crianças e adolescentes ferramentas para que eles possam aproveitar as oportunidades que o ambiente informacional oferece, mas também se proteger dos possíveis riscos.
Novas práticas de educação midiática
Jornal da Criança e Jovens: Esse evento traz a possibilidade da reflexão, do debate, mas principalmente, das novas práticas acerca da educação midiática. Como essas histórias chegam até você e quais as perspectivas a partir do que vai sair de resultado desses encontros?
Patrícia Blanco: É fantástico quando chegam relatos de que os professores e educadores ressignificaram seus conteúdos a partir da formação que a gente preparou e dos nossos materiais. Dá uma alegria muito grande ver que estamos fazendo a diferença na formação do professor e também na do aluno. Embora o projeto não seja voltado direto para o aluno, a gente acaba atingindo ele por meio do professor que é o multiplicador quem leva a educação midiática para a sala de aula.
Dá um calor no coração ver tantos projetos sendo feitos a partir do que começamos há cinco anos atrás. Que esse evento sirva para ampliar essa onda de disseminação do conceito de educação midiática, fazendo com que mais professores, educadores e gestores públicos vejam a importância da urgência dessa temática para os desafios que a gente tem.
Aliás, desafios como os de combate à desinformação, seja quanto ao que estamos vendo da tragédia no Rio Grande do Sul ou no período eleitoral. Por isso precisamos seguir disseminando o conceito para o papel que todos nós temos na produção e na disseminação de conteúdos.
Então, enquanto cidadãos, temos que ter a responsabilidade de compartilhar conteúdos que são éticos, respeitosos, que seguem princípios. E, com isso, fortaleçam o exercício da liberdade de expressão. Por isso, precisamos buscar atingir o maior número de pessoas.
Referências: Entrevista, O Globo
Acessos em 27 de maio de 2024.