Pelo menos um cidadão de cada estado do mapa geográfico do Brasil já esteve na Estação da Luz, no coração de São Paulo, a cidade com a maior população de falantes de português do mundo. Muitos chegam ali com apenas uma mochila nas costas e a esperança de conquistar um emprego, em busca de um futuro melhor. Certamente é um lugar paulistano, mas que pertence a todos os brasileiros que passam por lá. Por isso, a estação da Luz foi escolhida para sediar o Museu da Língua Portuguesa desde 2006. Fechado em 2015 por causa de um incêndio, enfim, o centro histórico vai reinaugurar em 17 de julho e o JC comemora a reabertura com uma reportagem especial sobre os falantes da língua portuguesa de diversas partes do Brasil.
Diversidade linguística
O aluno pode ser bom de português, mas quando viaja para outro estado dá um “nó na cabeça” porque, às vezes, é difícil entender as expressões regionais de cada lugar. O nordestino diz “Arre égua” quando está surpreso, já o gaúcho diz “tchê” enquanto o goiano “rensga” e o mineiro diz “uai”. Certamente, os sotaques e a língua portuguesa falada em cada região do país têm estilo próprio. Quem fala sobre este assunto é a professora Edjane Nunes Galdino Bertacco, do Colégio Marista Arquidiocesano, de São Paulo. Ela aceitou o desafio de escrever sobre a importância das variações linguística no Brasil afora. Veja abaixo como ficou:
– “Nossa Língua Portuguesa é de lorde! É importante que só! A sua diversidade é um trem arretado de bão! É como um arco-íris batuta, ligando guris e piás de todos os cantos deste mundão de meu Deus até a baixa da égua! Só não gosta quem é mouco ou quem se amachurra e fica com pantim. Mas não vale mangar, nem ficar metido a sebo! Bora estudar, pongar, para se tornar égua de largura! É ficar de bubuia e prosear. Essa riqueza de língua junta uma ruma até o tucupi!”.
Parece estranho, no entanto o texto acima está certíssimo. Aliás, não existe palavra errada quando falamos sobre as expressões regionais que enriquecem a cultura brasileira. O leitor de São Paulo pode não entender o que significa “de lorde”, mas o nordestino sabe que é “gente importante”. Da mesma forma, o baiano pode não compreender quando o brasiliense diz que alguém é “metido a sebo”, ou seja, “que está se achando”, como diz o paulista. Sem dúvidas, é difícil o amazonense “ficar de bubuia” quando o mineiro fala “trem arretado de bão”, que apenas quer dizer “coisa boa”. Aliás, se o mineiro não entender que “ficar de bubuia” é o mesmo que “fique tranquilo” ou “de boa”, a conversa entre eles pode acabar em confusão ou diversão. Tudo depende do ponto de vista.
Veja outros significados das palavras do texto da professora:
A população NORDESTINA tem um jeito especial de dizer, por exemplo:
“Ficar com patim” é o mesmo que exagerar, fazer “uma tempestade em copo d´água”.
Engana-se que “baixa da égua” pode ser um lugar embaixo do animal, porque a expressão quer demonstrar que o lugar é longe demais.
“Mouco” é pessoa surda e “mangar” é rir de alguém, fazer pouco caso.
Mas não se incomode porque é bom demais “prosear” com o nordestino, ou seja, conversar!
Além disso, “uma ruma” significa um monte e “pongar” é quando o baiano quer dizer “pegue carona nessa ideia” ou “faça igual”.
LÁ NO NORTE, A POPULAÇÃO FALA:
“Égua de largura” para dizer que a pessoa é muito boa no que faz!
E quando falam até o “tucupi” não se assuste! Quer dizer que encheu tudo, juntou demais.
“Guris” e “piás” é o jeito de chamar os meninos e meninas da REGIÃO SUL do Brasil!
“Amachurra” é amoitar-se, aquietar-se, encolher-se assim como diz o CATARINENSE.
Trocando as palavras
Para o Davi Henrique Teófilo de Azevedo Lima, de 12 anos, poeta e aluno da Sociedade Educadora São Francisco, de Recife em Pernambuco, faz parte do seu dia a dia brincar com o significado das palavras. Afinal, o garoto é cordelista assim como os seus pais, Sâmia de Azevedo e Jadson de Lima, e vivem brincando com os sinônimos em suas rimas e poesias. Um dia, Davi viajou com os pais e amigos para Acau, uma cidade do litoral paraibano. Estava bastante calor e eles foram tomar um “dimdim”ou “tabu” e foi quando o Davi ouviu alguém chamando o dindim dele de sacolé ou geladinho. O acontecimento virou motivo de risos, afinal, não importava o nome porque o produto era apenas um sorvete dentro do saco.
A Alice Silva Teodoro, de 8 anos, também não entendeu quando viu a palavra “guri” escrita em uma placa no parque temático Cidade das Criança. Ela é estudante da Escola Champagnat, em Presidente Prudente, interior de São Paulo. “Estava escrito assim: “Aqui temos projetos para os guris”. Então, a minha mãe explicou que no Sul as pessoas falam guri para chamar os meninos. Ela disse também que lá eles têm a cultura diferente da nossa. Depois que ela me explicou, bem explicadinho, eu entendi tudo e achei bem engraçado”.
Assista o bate papo sobre o tema:
Fontes: Sotaqueando, Museu da Língua Portuguesa
Acessos em 16 de maio de 2021.