Um pisar mais forte, o grito e uma pose com a cabeça erguida mostram a força do São João nordestino! Entre as barraquinhas de comidas e brincadeiras típicas nas festas juninas brasileiras, o arraial de Pernambuco é diferente. Tem o “balancê” das danças, xotes e xaxados, além de alegria, diversão e também muita dedicação para vencer o concurso das quadrilhas. Quem conta os detalhes sobre os preparativos da festa tradicional da cultura brasileira é o pernambucano Eduardo Roberto Monteiro, de 17 anos.
Dudu, como é conhecido entre os professores e colegas, estuda no Colégio Visão de Recife desde os dois anos de idade. Sempre gostou das atividades artísticas, desde projetos culturais até apresentações de dança e teatro. Além disso, já ganhou uma quadrilha e foi o noivo do São João do Visão em 2022, como mostra a imagem em destaque.
Confira a entrevista:
Os colegas estão animados como você na preparação da festa junina?
Dudu: (Risos) Eu sou um pouco mais que eles porque gosto muito, mas eu vejo que todos gostam de participar da competição das quadrilhas. Até o Rei e a Rainha do Milho das festas mais tradicionais de Pernambuco participam como jurados do São João do Visão.
Como será a sua quadrilha neste ano?
Dudu: Em primeiro lugar sorteamos os temas, procurando englobar temas sociais, como a tragédia do Rio Grande do Sul. A nossa quadrilha está querendo trazer esta questão importante para a realidade do nordestino de forma lúdica.
Falamos muito sobre a cultura nordestina, mostrando como os sertanejos foram guerreiros durante muito tempo porque sempre foram deixados de lado, sabe? Falamos muito sobre a força nordestina, nós temos grandes representantes, como o Luiz Gonzaga, Elba Ramalho, já homenageamos vários deles.
Como acontecem as competições entre as quadrilhas?
Dudu: As quadrilhas tradicionais são mais improvisadas, têm músicas clássicas e alguém puxando, falando alavantû (vai pra frente), anarriê (vai para trás), junta no círculo. Depois disso, “olha a chuva”, todo mundo gira com o seu par. Quando falam, “olha a cobra”, tem que pular.
Montamos um repertório para o tema da quadrilha. Por exemplo, se o tema da nossa quadrilha é sobre Lampião e Maria Bonita, então vamos contar a história desses personagens com cenas teatrais. Além disso, toda a parte de figurino é pensada: uma turma fica com o vermelho, outra fica com o amarelo, tudo pensado para conseguir uma boa pontuação.
Aliás, o Dudu nos contou que o Rei e a Rainha do Milho das grandes quadrilhas de Pernambuco são os jurados da competição do Colégio Visão de Recife.
E sobre a tradição do Rei e da Rainha do Milho?
Dudu: Toda quadrilha de Pernambuco tem fogueira, balões, um Rei e uma Rainha do Milho.
O milho é o grande tchan do São João, ele é como se fosse a fonte mágica. Tudo fica no clima de milho, tem pamonha, canjica, milho cozido.
Apresente uma característica típica da festa que chama muita atenção.
Dudu: Uma coisa muito característica é a energia que a gente traz, que é diferente da energia que vejo em outras apresentações artísticas. A energia do nordeste é a reafirmação de uma cultura que já foi muito desvalorizada, mas está ganhando força.
As músicas nordestinas trazem esse poder. É um pisar mais forte, um grito, uma pose com a cabeça erguida. É toda uma postura e você vê isso nas criancinhas. No xaxado, os menores batem o pé mesmo, é uma dança forte.
O que é o xaxado?
Dudu: O xaxado é uma dança tradicional daqui. Basicamente, você fica com um pé parado enquanto o outro vai pisando na frente, as mãos para trás e a cabeça acompanhando o movimento.
Por que você disse que a cultura nordestina é desvalorizada?
Dudu: Quando aprendemos sobre história, observamos que a nossa cultura sofreu por causa da seca e falta de colheita durante as invasões holandesas. Naquela época, as regiões sul e sudeste se desenvolveram muito. Agora, chegou a hora das culturas do norte e nordeste ganharem mais força.
Alguns personagens estão voltando para mostrar a nossa cultura. Como, por exemplo, a Juliette, vencedora do Big Brother em 2021. Depois de um momento tão difícil da pandemia, ela trouxe como símbolo o cacto, que é uma planta que fala sobre a resiliência, a força que sobrevive na seca porque ele guarda sua água.
Um pouco sobre a história do Brasil

Os holandeses tomaram Pernambuco em 1630 e ficaram até 1654, quando os portugueses os expulsaram. O melhor momento da colônia holandesa foi durante o governo do alemão Maurício de Nassau, entre os anos 1637 a 1643. Naquela época, Recife foi urbanizada com pontes, novas ruas, edifícios e saneamento básico, atraindo muitos intelectuais e comerciantes para a região. No entanto, depois de tantas batalhas entre portugueses e holandeses no território, a origem da cultura pernambucana acabou se perdendo com o tempo e seu povo busca sempre resgatar suas origens.
JC: Hoje em dia, o nordeste não enfrenta a seca daquela época. Por outro lado, quem está sofrendo agora são os gaúchos com as enchentes históricas no Rio Grande do Sul.
Dudu: Sim, tudo são processos e tem a ver com o período histórico. Quando tinha seca no nordeste, o mundo não era globalizado. Com quais recursos as pessoas saberiam o que acontecia aqui? Diferente da tragédia no Rio Grande do Sul, que o mundo inteiro está acompanhando pela internet e ajudando.
Por isso, neste ano, queremos puxar este tema para a nossa quadrilha. Vamos tentar mesclar as culturas como uma forma de apoio. A cultura nordestina, que foi fragilizada por muito tempo, apoia a que está frágil neste momento.
Enfim, a prosa com o Dudu foi além da quadrilha e chegou no vestibular. Ele termina o Ensino Médio neste ano, vai prestar Medicina e este São João será o último dele como aluno do Colégio Visão.
Melissa Fernandes, jornalista responsável pela comunicação do Colégio Visão, garante: “Certamente, o Dudu vai inovar a Medicina e nós sempre estaremos com as portas abertas para ele”.
Curiosidade:
A tradição de chamar as festas que acontecem no mês de junho de “Festa de São João” no nordeste está relacionada à influência da cultura católica na região, que no dia 24 de junho celebra o santo São João.
Referências: Recife.pe, Colégio Visão de Recife. UFRPE
Acesso em 19 de maio de 2024.