Uma criança pode sofrer preconceito por ser muito magra ou gorda assim como também por sua cor de pele. Brincadeiras maldosas a respeito dos outros e suas preferências sempre aconteceram e hoje nos chamamos isso de bullying. Mas, será que a sociedade não é influenciada desde cedo a agir dessa forma?
Começando pelas histórias que ouvimos quando somos crianças, é mais fácil lembrar da Cinderela e da Branca de Neve ao invés da Tiana, a primeira princesa negra da Disney. Isto porque essa personagem foi criada apenas em 2009, na animação “A Princesa e o Sapo”. Para falar sobre a cultura antirracista, o Jornal da Criança ouviu a Denise Rampazzo, professora de Culturas Brasileiras e Diversidades Étnicas no Instituto Singularidades.
Você já foi vítima de racismo quando era criança e o que aconteceu?
“Não nunca fui vítima de racismo porque a minha aparência é de uma pessoa branca, mas vi algumas pessoas bem próximas sendo vítimas. Então, quando eu tinha uns 14 ou 15 anos, minha melhor amiga que era branca como eu, começou a gostar de um garoto que era negro. Os pais dela não deixaram que eles namorassem e isso foi muito triste para a minha amiga e para o garoto de quem ela gostava.”
Como enfrentou essa situação?
“O garoto foi conversar com os pais da minha amiga, mas eles disseram que os dois eram muito diferentes e que não poderiam nem mesmo ser amigos. Nós duas demoramos para entender o porquê. Ele era muito legal, estudava e já trabalhava. Ficamos perguntando para os pais da minha amiga e, depois de insistirmos bastante, a mãe dela nos disse que brancos não deveriam se misturar com negros.”
Esta situação a motivou estudar sobre a cultura antirracista?
“Na realidade, não. Isso aconteceu há muito tempo e apesar de não ter feito muito sentido, eu acabei deixando para lá. Só fui começar a estudar o assunto quando era professora e comecei a perceber que em muitos lugares não havia negros e que algumas pessoas ainda se comportavam como os pais da minha amiga.”
Qual é o seu conselho para quem sofre qualquer tipo de preconceito?
A primeira coisa que eu diria é: não se cale! Ninguém, absolutamente ninguém, pode maltratar ou ofender outra pessoa por causa da sua cor, da sua religião, condição ou aparência física. A riqueza do Brasil é a nossa diversidade, somos um grande país que foi formado por diversos povos e isso nos faz brasileiros. Então, não existem pessoas melhores ou piores por causa da sua aparência, religião ou condição.
Em primeiro lugar, todos precisam agir e não aceitar que ninguém seja maltratado ou ofendido. Temos que avisar nossos pais, nossos professores e nos colocarmos ao lado de quem está sofrendo bullying. Também podemos conversar com quem agride e dizer que isso não é certo e que precisamos nos colocar no lugar do outro, já que ninguém gostaria de ser tratado desta maneira. Só assim vamos fazer as coisas mudarem.
O que é ser o sujeito da história e não o objeto.
“Quando falamos de história, estamos falando de tudo que acontece e aconteceu envolvendo os seres humanos. Alguns acontecimentos e pessoas acabam sendo retratados nos livros, mas não são apenas estes acontecimentos e pessoas que fazem a história. Isto porque ela é construída no dia a dia de todas as pessoas. Dessa forma, todos nós somos sujeitos da história, porque participamos dos acontecimentos. No futuro, quando forem contar como era a vida na época da pandemia de covid-19 no Brasil, cada um de nós terá vivido este momento. Sendo assim, todos nós somos sujeitos da história.”
Confira as indicações de livros da cultura antirracista que a professora Denise indicou:
Coleção Black Power, da Mostarda Editora.
Mandela: O africano de todas as cores, de Alain Serres. Editora Zahar.
Amoras, do Emicida. Editora: Companhia das Letrinhas/Companhia das Letras.
Meu Crespo É de Rainha – bel hooks. Editora: Boitatá/Boitempo.
Mzungu, de Meja Mwangi. SM Editora.
O Ônibus de Rosa, de Fabrizio Silei e Maurizio A.C. Quarello. SM Editora.
Tudo bem ser diferente, de Todd Parr. Editora: Panda Books.
Curiosidade: A abolição da escravatura determinou o fim da escravização dos negros no país. No dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea.
Fonte: Assessoria de imprensa
Acessos em 18 de abril de 2021.
Crédito da imagem de capa: Todd Parr