A implantação da educação midiática como política pública vai muito além de leis, regulamentações e incentivos. É necessário que as escolas e os professores estejam preparados para trabalhar com ela. Durante o Encontro Internacional de Educação Midiática, realizado em maio, no Rio de Janeiro, a contextualização do cenário educacional enquanto ponto central dessas discussões esteve em pauta.
Segundo Cláudia Costin, Professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Presidente do Instituto Singularidades, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU coloca como meta que todos os alunos da Educação Básica tenham habilidades para a promoção de uma cultura de paz e dos Direitos Humanos, e isso implica no uso das tecnologias. Mas ainda existem muitos desafios.
Um deles é a capacidade de leitura e interpretação de texto, uma preocupação significativa nas múltiplas realidades escolares. Outro é a formação dos professores em educação midiática. Há também o combate aos discursos de ódio e à desinformação. E e a antecipação às novas demandas de competências e habilidades para os novos perfis profissionais: “É necessário que as crianças trabalhem em projetos em cima das suas realidades, dos assuntos da atualidade transversalmente aos conteúdos programáticos. Uma educação que ensine a aprender. E que possa ajudar a distinguir fato de opinião”, afirma.
Para Rebeca Otero, Coordenadora de Educação da UNESCO Brasil, o último relatório anual da agência defende um orçamento base para que a educação midiática seja prioridade, além do engajamento com outros setores e atores da sociedade, como a mídia, empresas privadas e ONGs: “É urgente exercitar nos alunos a capacidade crítica no combate à desinformação, deixando os currículos mais atualizados com novas propostas”, alerta.
Vilão ou mocinho? O celular deve ser proibido em sala de aula?
Afinal, qual professor nunca se viu diante de uma turma que estava mais interessada na tela do telefone do que na aula? Essa realidade cada vez mais comum traz muitos debates entre os professores. Por isso, uma das recomendações da UNESCO é utilizar aparelhos eletrônicos, como celulares e tablets, apenas para fins pedagógicos, como implementado pela rede municipal de educação do Rio de Janeiro. A prefeitura da cidade decidiu proibir o uso de celulares dentro da escola.
Para Renan Ferreirinha, Secretário Municipal de Educação do Rio, essa medida foi pautada em várias experiências. “Nós temos hoje 1556 escolas, quase 700 mil alunos e 53 mil profissionais de educação. Fizemos uma consulta pública, inclusive com as famílias, onde 93% das pessoas foram favoráveis à restrição parcial do celular durante as aulas, e 83% foram favoráveis à restrição total. Quando a criança fica na tela, não interage com o ambiente. Inclusive temos casos cada vez maiores de crises de ansiedade. A conexão tem que ser com a escola”, defende.
Segundo Renan, os alunos podem usar o aparelho em situações específicas, como casos emergenciais na família ou na cidade. Além disso, podem usá-los também para fins pedagógicos. “Se o professor tiver alguma atividade que o celular vai ser importante para uma pesquisa, por exemplo, ele pode usar, sem problemas. Só não queremos que a criança perca a convivência social. O algoritmo vicia. O que não pode acontecer é o professor ensinar alguma coisa e o aluno estar no joguinho, no vídeo do gatinho. A tecnologia precisa ter utilidade e não dispersar o conhecimento”, completa.
Olimpíada de Educação Midiática
Por fim, uma novidade anunciada no Encontro é a primeira Olimpíada de Educação Midiática, que ainda não tem data para acontecer, mas está sendo elaborada pelo Governo. Em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação, o objetivo é alcançar 400 mil jovens.
Para Mariana Filizola, Coordenadora Geral de Educação Midiática da Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal, é necessário criar uma cultura de participação e reflexão nos ambientes virtuais. “Distinguir o espaço digital do espaço informacional é muito importante. E todos são ambientes de aprendizagem”, destaca.
Crédito do texto: Carol Gramião
Referências: Entrevista, Agência Brasil, Revista Educação
Acessos em 11 de dezembro de 2024.